Soterologia: Doutrina de Cristo

Soterologia: Doutrina de Cristo

1.  Graça:  É  o  poder  dinâmico  de  Deus  que  provêm  imerecidamente  para capacitar o homem a desejar e fazer a Sua vontade (Fp.2:13; Ico.1:4,5; IITm.1:9; Tg.1:18; IICo.3:5; Hb.13:21; Is.26:12; Jr.10:23; Pv.16:9; 20:24; ICo.15:10).  

2.  Predestinação:  É  o  conselho  ou  decreto  de  Deus  concernente  aos  homens decaídos, incluindo a eleição soberana de uns e a justa reprovação dos restantes (Rm.8:29,30; 9:11‐24; Ef.1:5,11). 

Os dois aspectos da predestinação são: (a)  Eleição: É o ato eterno de Deus pelo qual Ele, em seu soberano beneplácito, e sem  levar  em  conta  nenhum  mérito  previsto  nos  homens,  escolhe  um  certo número deles para receberem a graça especial e a salvação eterna. (b)  Reprovação: É o decreto eterno de Deus pelo qual Ele determinou deixar de aplicar  a  um  certo  número  de  homens  as  operações  de  sua  graça  especial,  e puní‐los por seus pecados, para a manifestação da sua  justiça. Os dois aspectos da reprovação são preterição e condenação.  

 

PENSAMENTO:  A  soberania  divina  e  a  soberania  humana  certamente  são contraditórias  entre  si,  mas  a  soberania  divina  e  a  responsabilidade  humana, não. (F.H. Klooster)  

3. Vocação:  Vocação  ou  chamada  é  o  ato  de  graça  pelo  qual Deus  convida  os homens,  através  de  Sua  Palavra,  a  aceitarem  pela  fé  a  salvação  providenciada por  Cristo.  (ICo.1:9;  ITs.2:12;  IPe.5:10;  Mt.11:28;  Lc.5:32;  Jo.7:37;  At.2:39; Rm.8:30; ICo.1:24,26;7:15; Gl.1:15; Ef.4:1;4:4; IITs.2:14; IITm.1:9; Ipe.2:9;5:10).   

4. União: É a ligação íntima, vital e espiritual entre Cristo e o Seu povo, em razão da qual Ele é a  fonte da  sua  vida e poder, da  sua bem‐aventurança e  salvação (Ef.5:32; Cl.1:27).   

5.  Regeneração:  É  o  ato  de  Deus  pelo  qual  o  princípio  de  uma  nova  vida  é implantado no homem, e a disposição dominante de sua alma é tornada santa. É a  comunicação de vida divina à alma, que  implica numa  completa mudança de coração (Ez.11;19; 18:31; 36:26; Jr.24:7; Rm.6:4; Ef.2:6; Cl.2:12; Jo.5:21; Jo.6:63; 10:10,28;  Rm.6:11,13;  IJo.5:11,12;  Ef.2:1,5;  Cl.2:13;  IIPe.1:4;  Jo.1:12;  3:3,5; IJo.3:1).    

 

6. Conversão: É o ato exterior, visível e prático da salvação operada na vida do pecador regenerado (Lc.22:32). 

Os dois aspectos da conversão são: (a)  arrependimento:  é  o  aspecto  negativo  da  conversão,  porque  implica  no abandono do pecado e em dizer não para as coisas pecaminosas. 

(b)  fé: é o aspecto positivo da coversão, porque  implica em voltar em direção a Deus e em dizer sim para a sua palavra.  

7. Arrependimento: É a mudança voluntária e consciente, produzida na vida do pecador, efetuada pelo Espírito Santo, a qual atinge sua mente, seus sentimentos e  conduz  o  pecador  ao  abandono  voluntário  do  pecado  (Mt.21:28‐30; IICo.7:9,10).   

8.  Fé:  É  um  firme  e  seguro  conhecimento  do  favor  de  Deus,  para  conosco, fundado na verdade de uma promessa gratuita em Cristo, e  revelada às nossas mentes e seladas em nossos corações pelo Espirito Santo  (As  Institutas,  III, 2,7, Calvino).    

 

9. Justificação: É um ato judicial de Deus, no qual Ele declara, com base na justiça de  Jesus  Cristo,  que  todas  as  reivindicações  da  lei  estão  satisfeitas  a  favor  do pecador  (At.13:39; Rm.5:1,9; 8:30‐33;  Ico.6:11; Gl.2:16; Gl.3:11). Na  justificação estão incluídos o perdão, a adoção, a substituição vicária e a imputação. 

Os dois aspectos da justificação são: (a) Remissão ou Perdão  (aspecto negativo/a dívida é anulada): É o  resultado da morte de Cristo e se dá por meio da substituição, na qual, Cristo nosso Cordeiro

Pascal se oferece para morrer em nosso lugar. 

(b) Adoção (aspecto positivo/o crédito é imputado): É o resultado da ressurreição de Cristo e  se dá por meio da  imputação, na qual a  justiça de Cristo, que dá o direito  legal à adoção, é  imputada ao crente. A  regeneração opera uma  filiação moral enquanto que a adoção opera uma filiação legal.   

10. Remissão ou Perdão: É o aspecto negativo da justificação, pois quando Adão pecou,  ele  foi  condenado  pelo  que  fez  de  errado  (iniquidade),  como  também pelo que deixou de  fazer de certo, errando o alvo  (pecado). Adão, então pecou por  ação  (iniquidade  =  pecado  consciente,  voluntário,  transgressão)  e  omissão (pecado,  leia  IJo.3:4).  Cristo  em  sua  obra  vicária  corrigiu  os  erros  de  Adão, obedecendo passiva e ativamente, negativa e positivamente os mandamentos de

Deus,  pois  a  lei  inclui  mandamentos  negativos  (não  adulterarás,  etc)  e mandamentos positivos (amarás a Deus, etc). O perdão é, portanto o ato judicial de Deus pelo qual ele concede ao pecador, na cruz, os benefícios resultantes da obediência passiva de Cristo. O perdão é resultado da morte de Cristo enquanto que a adoção (o aspecto positivo da  justificação) é resultado da ressurreição de

Cristo  (Rm.4:25).  Na  morte  Cristo  aniquilou  o  pecado,  na  ressurreição  trouxe justiça. O perdão é operado mediante a  substituição, a  justiça é  concedida por meio  da  imputação.  O  perdão  é  concedido  na  cruz.  A  justiça  é  imputada  no tribunal de Deus (IPe.3:18). 

NOTA: Remissão não é o mesmo que redenção. Veja redenção no item 17.   

11. Adoção: É o ato judicial de Deus, resultado prático da regeneração, pelo qual Ele declara seus  filhos emancipados e herdeiros da vida eterna  (Tt.3:7). Adoção não  deve  ser  confundida  com  regeneração,  pois  na  adoção  Deus  coloca  o pecador que já é seu filho regenerado na posição de filho adulto. Na adoção não há  transformação  interior  (moral).  A  adoção  não muda  o  interior  do  pecador, muda a sua posição perante Deus. Deus não adota pecadores não regenerados, Deus só adota aqueles que já são seus filhos.   

12. Imputação: É o ato de Deus pelo qual Ele debita meritoriamente na conta da humanidade o pecado de Adão, e  judicialmente na conta de Cristo o pecado da humanidade,  e  gratuitamente  na  conta  da  humanidade  a  justiça  de  Cristo.

Imputação significa "debitar", "atribuir responsabilidade" ou "lançar na conta de alguém".  Paulo  ensina  esta  doutrina  quando  assume  a  dívida  de Onésimo. Do mesmo modo Jesus Cristo tomou a nossa dívida (Fm.18,19).   

13. Substituição: É o ato judicial de Deus pelo qual Ele pune os pecadores pelos seus  pecados,  provendo  um  substituto  qualificado,  sobre  o  qual  recaiu  todo  o pecado  e  a  culpa  imputados  à  humanidade  por  causa  do  pecado  de  Adão (Is.53:4‐7; Ico.5:7). 

Um substituto qualificado deveria possuir:  

 

(a)  Perfeita  Encarnação:  deveria  ter  natureza  humana  completa  para  poder representar adequadamente a humanidade (Hb.2:14‐17; 5:1; Jo.1:14). 

(b)  Perfeita  Identificação:  deveria  ter  uma  profunda  identificação  com  o sofrimento  humano  (Hb.4:15;  Hb.2:18;  Hb.5:2,3).  A  nossa  identificação  com Cristo  é  tão  perfeita  que  somos  identificados  com  Ele  na  sua morte  (Rm.6:3; Cl.2:12). 

(c) Perfeita Santidade: Um homem comum não seria um bom  representante da raça  humana. O  substituto  deveria  ser  santo,  inocnete,  sem mácula,  separado dos pecadores (Hb.7:23‐27). Um mortal comum não poderia salvar ninguém, pois sendo mortal, não se salvaria nem a si mesmo. 

  

14. Santificação: É a graciosa e contínua operação do Espirito Santo pela qual Ele liberta o pecador justificado da corrupção do pecado, renova toda a sua natureza à imagem de Deus, e o capacita a praticar boas obras.  

 

ESQUEMA DA SALVAÇÃO  

 

      Espírito Alma Corpo 

      Tempo Passado Presente Futuro  

      Em relação ao pecado 

Penalidade (Jo.5:24) 

Poder (Rm.6:14) 

Presença       (ICo.15:54,57) 

      Em relação ao pecador 

Justificação Regeneração (Rm.1:4; Ipe.1:2; Rm.5:16;IITs.2:13) 

Santificação (Tg.1:21,22; IITm.3:15) 

Redenção (Fp.3:21)  

      Ocasião 

Morte e ressurreição de Cristo  

 

Do novo nascimento até o encontro com Cristo (Fp.1:6) Arrebatamento ou 2ª Vinda de Cristo (ICo.15:52,53) 

  

15. Perseverança: É a contínua operação do Espirito Santo no crente, pela qual a obra  da  graça  divina,  inciada  no  coração,  tem  prosseguimento  e  se  completa, levando  os  salvos  à  permanecerem  em  Cristo  e  perseverarem  firmes  na  fé.  A perseverança representa o lado humano (Jr.32:40; Sl.86:11; 37:28‐31). 

16. Segurança: É a garantia eterna e imutável da salvação, iniciada e completada por  Deus,  no  coração  dos  regenerados.  A  segurança  representa  o  lado  divino (Sl.89:28‐37).   

17.  Redenção:  É  o  ato  gracioso  de  Deus  pelo  qual  Ele  liberta  o  pecador  da escravidão da  lei do pecado e da morte  (Rm.8:1,2), mediante o pagamento de um resgate (Rm.6:20‐22; Ico.6:19,20; IPe.1:18,19; Ap.1:5; 5:9; Gl.4:1‐7).  

 

(a) A Necessidade da Redenção: Todas as criaturas humanas da terra pertencem a Deus  (ICo.10:26; Sl.50:12) mas não são todas de Cristo  (Rm.8:9). O homem só se  torna  propriedade  exclusiva  de  Cristo  mediante  a  obra  da  redenção (ICo.6:19,20; Hb.2:13‐15). O mundo (sistema) é de Satanás (Lc.4:6;  Ijo.5:19) e as criaturas  humanas  que  estão  no mundo  pertencem  à  ele  (At.26:18; Mt.12:30; Mc.9:40; Lc.11:23), por isso era necessária a redenção, para que através de Cristo Deus  resgatasse  (comprasse)  do  mundo  os  que  viriam  a  crer  nele,  para  que através  da  redenção  passassem  a  pertencer  a  Cristo  (Jo.15:19;  17:14;  18:36; Cl.1:13). Se um homem ainda não foi redimido, embora sendo criatura de Deus, continua sendo filho do Diabo, do qual é ele escravo (Jo.8:44). Somente os filhos de Deus são verdadeiramente livres (Gl.2:4; 5:1; Rm.8:21; IICo.3:17).   

(b) A Natureza do Redentor:  Deveria  ser  parente  próximo  da  vítima:  Era  ele,  o  redentor  (goel  no  hebraico) quem deveria resgatar o sangue da vítima assassinada  (Nm.35:19‐34; Js.20:3‐5);

era  ele  quem  deveria  resgatar  a  possessão  da  família  que  fora  vendida (Lv.25:24,26,51,52; Lv.27:13,15,19,20,31; Jr.32:7); era ele quem deveria resgatar a pessoa cujo empobrecimento  forçou‐a a se vender a um não  judeu  (Lv.25:47‐49). Em Ezequiel 11:15 a expressão "os homens do teu parentesco" significa "os homens da tua redenção". 

O  Redentor  deveria  preencher  certos  requisitos:  (1)  deveria  ter  parentesco  do escravo  a  ser  resgatado  (Rt.2:20; 3:9,12; 4:1,3,6,14);  (2) deveria  ter meios  com que  pagar  o  resgate  (Rt.4:6;  Sl.49:7‐9);  (3)  deveria  querer  efetuar  o  resgate (Rt.4:4;  Rt.3:13;  Rm.5:7);  (4)  deveria  ser  livre  e  não  podia  ser  um  escravo,  um escravo não podia resgatar outro escravo.   

(c) Cristo é o Nosso Redentor: 

(1)     Ele se fez nosso parente próximo (Hb.2:14,15; Fp.2:7); 

(2)     Ele pagou com seu sangue (At.20:28; IPe.1:18; ICo.6:20); 

(3)     Ele nos resgatou voluntariamente (Jo.10:17,18); 

(4)     Ele não tinha pecado (Hb.5:15; IICo.5:21). 

 

18.  Reconciliação:  É  a  operação  graciosa  de  Deus  pela  qual  Ele  reconcilia  os pecadores  consigo mesmo,  por meio  da morte  de  Jesus  Cristo,  removendo  a inimizade  (IICo.5:18‐21; Cl.1:20‐22). O  termo usado no antigo Testamento para reconciliação é expiação. 

Os dois aspectos da reconciliação são: 

(a)     Expiação: A  reconciliação  (no grego = katallagê)  tem seu aspecto negativo na  expiação,  que  enfatiza  a  morte  de  Cristo  para  o  perdão  dos  pecados  em relação ao homem. (A justificação possui aspectos semelhantes a reconciliação:  É negativa e positivamente considerada: (a) Perdão e (b) Adoção). A expiação é a remoção da causa da  inimizade do homem (Rm.5:10). Na expiação a fraqueza, a impiedade  e  o  pecado  (mencionados  em  Rm.5:6‐8),  fatores  causadores  da inimizade  são  removidos.  Portanto  expiação  é  o  cancelamento  da  fraqueza (Rm.5:6),  da  impiedade  (Rm.5:6)  e  especialmente  do  pecado  (Rm.5:8;  Ijo.1:29; At.3:19). Na expiação a ação  se dirige para aquilo que provocou o  rompimento no relacionamento, e se ocupa com a anulação do ato ofensivo.  

 

(b)   Propiciação: É a reconciliação em seu aspecto positivo, e por  isso vai além da expiação, pois enfatiza a morte de Cristo em relação a Deus. Na propiciação a ação se dirige para Deus, a pessoa ofendida. O propósito da propiciação é alterar a atitude de Deus, da ira para a boa vontade e favor. Na propiciação é a ira que é removida  (Rm.5:9,10) e a amizade de Deus é  restaurada. Não é o caso de Deus mudar, mas sim de que sua  ira é desviada  (Sl.78:38; 79:8; Em Ex.32:14 o  termo arrepender  é wayyinnahem,  no  hebraico,  e  hilaskomai,  no  grego,  que  significa "ser propício".  É  também usado  em  Lm.3:42; Dn.9:19;  IIRs.24:4.  É  claro que  se trata  de  linguagem  poética,  pois  há  passagens  em  que  se  diz  que  Deus  se arrependeu de fazer o bem, como em Jr.18:10, como se o bem fosse causa para arrependimento). 

Na expiação Cristo ofereceu‐se pelos os homens, na propiciação Ele ofereceu‐se à Deus (Hb.9:13,14;  IPe.3:18). A expiação extingue o pecado (a  inimizade contra Deus),  a  propiciação  extingue  a  penalidade  do  pecado  (a  ira  de  Deus)  que  é desviado para a cruz de Cristo (Rm.3;25; Rm.1:18,24,26).   

 

19.Renovação: É a operação graciosa de Deus que inclui todos aqueles processos de  forças  espirituais  subsequentes  ao  novo  nascimento  e  decorrentes  dele (Sl.51:10;103:5; Is.40:31;41:1; Cl.3:10). 

20.  Glorificação  ou  Ressurreição:  É  a  operação  divina  pela  qual  o  crente regenerado  há  de  ressuscitar  corporalmente,  tendo  seu  corpo  abatido, transformado à semelhança do corpo glorioso do Senhor Jesus (Fp.3:21; ITs.4:13‐17; IJo.3:2).    

Conclusão: não  foram apresentados  todos os aspectos envolvidos em  cada um dos  20  itens  aqui  descritos.  O  assunto  é  vasto  e  interminável,  na  teologia sistemática,  principalmente  na  soteriologia,  por  isso  apresentei  um  resumo  do que  considerei mais  importante  sobre o  assunto. Outros  aspectos  poderão  ser encontrados por um.